08/03/2011 - 21h41 | do UOL Entretenimento
MARINA VERGUEIRO
Colaboração para o UOL
Cerca de dez profissionais de CET foram enviados à praça 14 Bis, em São Paulo, para tentar controlar o trânsito de carros e das mais de 4.500 pessoas que a Vai-Vai recebe nas ruas do Bixiga, já que a quadra da escola é capaz somente de suportar os 700 componentes que acompanharam a apuração do Carnaval deste ano, cujo enredo foi uma homenagem ao maestro João Carlos Martins intitulado “A Música Venceu”. “A gente não tem quadra, mas vai trabalhar pra ter” afirmou o presidente Darly Silva pouco após apresentar à comunidade o troféu recebido no sambódromo do Anhembi que mais uma vez a consagra como a maior campeã do Carnaval paulistano, com 14 títulos conquistados desde que foi fundada em 1930.
A festa é regada por 8 mil litros de chopp enviados gratuitamente à comunidade por uma cervejaria e deve continuar pelas ruas da Bela Vista -- distrito ao qual o Bixiga pertence -- até as 8h da quarta-feira de cinzas. “Eu já tinha certeza do campeonato, mas mesmo assim a gente fica ansiosa”, diz a bailarina clássica Vanessa Micael, que acompanhou a apuração na quadra e há muito tempo já conhecia a trágica história de vida do maestro. “Ele merecia, assim como a Vai-Vai mereceu (o título)”, afirma.
A história de amor entre o maestro de música erudita e a escola de samba mais popular de São Paulo teve início há cerca de 5 anos, quando “João Carlos Martins teve um sonho em que tocava a 5ª sinfonia de Beethoven e ouvia uma bateria tocando no fundo”, como conta Felipe de Souza, um dos diretores da bateria comandada pelo Mestre Tadeu. “Ele nos procurou, fizemos algumas apresentações e decidimos homenageá-lo. Foi uma coisa que fluiu naturalmente”, conta o músico. Para o presidente da escola Darly Silva, unir o samba e a música clássica foi uma “combinação perfeita” pois “o maestro João Carlos Martins é um membro da nossa comunidade e este ano a homenagem foi mágica”.
Segundo o vice-presidente Renato Maluf, a agremiação gastou cerca de R$ 2.800 milhões no carnaval de 2011, em comparação com os R$2 milhões gastos no ano passado quando a escola comemorou os 80 anos de existência. “A gente fez um desfile considerado o maior da história da Vai-Vai, com muito luxo, muita grandiosidade e ousadia. Viemos com sete destaques de chão, o maior abre-alas do Carnaval, o melhor carnavalesco e com um cantor do Rio de Janeiro”, conta ele.
A grandiosidade do Carnaval da Vai-Vai deste ano acabou refletindo na saúde de Cida Barbosa, que há mais de 25 anos desfila pela escola. Prestes a entrar na passarela do samba, já integrada à ala das baianas à qual pertence há 11 anos, a aposentada pernambucana sofreu uma crise de bronquite asmática que a impediu de desfilar. “Até chorei”, conta ela. A asma voltou a assombrá-la esta terça-feira durante a apuração, mas durou pouco, somente até que a agremiação fosse consagrada vitoriosa.
"Quanta emoção, meu Deus. Sou um velho maestro chorão", diz Martins
Embora ausente devido a compromissos de trabalho na Flórida, o maestro João Carlos Martins foi representado por sua mulher Carmem Silvia de Araújo, que foi ovacionada pela comunidade quando convidada para subir ao palco. Em entrevista ao UOL, ela conta que ligou para que ele escutasse os momentos finais da apuração, mas que não pôde escutar a reação dele dado ao barulho das comemorações na quadra. “Acho que ele deve ter chorado muito, do jeito que ele é chorão”, brinca ela.
O carioca Alexandre Louzada foi o carnavalesco responsável por levar a vida do ex-pianista e maestro à passarela do samba, mas para isso o Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Vai-Vai teve que pedir autorização à diretoria da Beija-Flor, onde ele integra a comissão de Carnaval que este ano homenageou o cantor Roberto Carlos. “O Vai-Vai buscou o melhor para sua escola e o nome do Louzada foi citado. A gente bateu um papo e a vontade dele em fazer um Carnaval em São Paulo era muito grande, então isso ajudou”, conta o vice-presidente Renato Maluf. Mesmo com jornada de trabalho dupla, o carnavalesco obteve o apoio da comunidade e o resultado "está aí. A música venceu”, finaliza o presidente da agremiação Darly Silva.