Com samba fácil e desfile colorido, Mocidade empolga público da Sapucaí

Da Redação

Com o samba-enredo “Parábola dos Divinos Semeadores”, a Mocidade Independente de Padre Miguel, terceira a desfilar na última noite do Grupo Especial do Rio, foi buscar na agricultura e nas lendas ligadas ao campo a origem do próprio Carnaval, e se valeu de um samba de letra fácil e do desfile colorido e alegre para cativar o público.

Um dos carros-alegóricos da escola, "Saturnália", reproduziu ruas da Roma antiga em meio à celebração pagã ao deus Saturno, responsável pela agricultura, durante a qual se escolhia o "rei momo" dentre os integrantes da comunidade de camponeses. Outro a chamar a atenção dos foliões reproduzia os bacanais, rituais em homenagem à figura do deus Baco, interpretado na alegoria pelo ator Leandro Hassum, que se fartou com uvas de verdade e deu mostras de ter encarnado o personagem:  

"Fazer bacanal é sempre muito bom", afirmou Hassum, lembrando que Baco é a divindade do vinho, dos excessos, da libertinagem e, de certa forma, "de tudo o que tem a ver com Carnaval".

Muito colorida, a Mocidade se valeu de fantasias inusitadas. Na comissão de frente, dois anões pajeavam uma bailarina, enquanto outros 13 componentes evoluiam sobre patins, na representação da escola para o "semear da vida". Logo depois, o carro abre-alas ("Era Glacial") fez nevar na Sapucaí, graças a efeitos com sal e gelo seco, para depois mudar totalmente de visual no período de "renascimento" da vida.

A curiosidade, tanto na arquibancada, quanto na avenida, foi tamanha que levou o carnavalesco Cid Carvalho a passar irriquieto de um lado para o outro, entre as alas. "Cada um para o seu carro. Nada de acompanhar o abre-alas", esbravejou Carvalho aos responsáveis por outras alegorias, que queriam ver o espetáculo da neve artificial.

Inusitada também foi a ala das baianas, ainda dentro do tema da "Era Glacial", que desfilou pela avenida com um tripé circulando por entre as fileiras de componentes -- normalmente, a ala das baianas sai de forma compacta, sem elementos externos. A fantasia da bateria de mestre Beré também causou estranhamento: vestidos de faunos, seres mitológicos guardiões da natureza, traziam cascos nos pés e pernas peludas, bem como chifres na cabeça. O ritmo, no entanto, com paradinhas e bossas, agradou bastante, assim como a participação da rainha Andrea de Andrade, estreando na função.

A velha guarda e o Rei Momo oficial do Rio de Janeiro, Milton Júnior, desfilaram numa das últimas alegorias, "Estrela Guia", que acompanhou a letra do samba-enredo: "Guiado pela luz da estrela guia/Eu vou por onde a semente me levar".

Ao final do desfile, o presidente da escola Paulo Vianna reclamou de uma suposta interferência proposital da Salgueiro, que terminou seu desfile com dez minutos de atraso, num momento registrado por diversos jornalistas. "O pessoal da Salgueiro estava segurando o carro de maldade", acusou o Vianna. "Reclamei com o responsável pelo setor, e eles [Salgueiro] não quiseram retirar [o carro alegórico], então chamei os seguranças", afirmou. Uma leve chuva também começou a cair, mas nada disso atrapalhou a saída da escola da avenida, que terminou seu desfile dentro do tempo regulamentar.