Gaviões da Fiel quer levar riquezas da "pérola do oriente" Dubai para o Anhembi

MARINA VERGUEIRO
Colaboração para o UOL

Com o samba-enredo “Do Mar das Pérolas e das Areias do Deserto à Cidade do Futuro -- Dubai, o Sonho do Rei Maktoum”, a Gaviões da Fiel pretende levar ao sambódromo do Anhembi no próximo sábado (5) a história da “pérola do oriente” -- como ficou conhecida Dubai no fim do século 18, época em que ainda era uma vila de pescadores cuja maior riqueza eram as pérolas. “Dubai é a referência mundial da arquitetura moderna, uma cidade com um contraste extraordinário entre passado e futuro”, acredita o carnavalesco Zilkson Reis, que desde 2009 assina o Carnaval da escola.

Auxiliado por cerca de 110 pessoas no barracão, ele chega a trabalhar quase 20 horas diárias na semana que antecede o desfile. Das fantasias aos carros alegóricos, ele é responsável pelos desenhos, esculturas, plantas, projeções e pilotos. “Eu sei esculpir, sei pintar... Gosto de conhecer cada detalhe pra me sentir seguro”, diz Zilkson.  Entretanto, este ano convidou cinco decoradores para se responsabilizarem cada um por uma alegoria, “para que se construísse uma rixa construtiva, porque um vai querer fazer melhor que o outro”, explica.

A ideia do enredo partiu da diretoria da agremiação em meados de junho, quando o carnavalesco ainda trabalhava para os desfiles do Boi Garantido e do Caprichoso na festa folclórica de Parintins (AM) , onde iniciou sua carreira artística e de onde “importou” cerca de 40 profissionais que o acompanham na Gaviões há 3 anos. A pesquisa sobre Dubai teve como base o livro “Mar das Pérolas: Dubai e os Emirados”, da arqueóloga carioca Fernanda de Camargo-Moro, que acabou se juntando ao time e até mesmo “virando a casaca”. “Foi uma experiência tão maravilhosa que eu cheguei até a torcer pro Corinthians”, confessa a flamenguista.

Estudiosa das rotas do oriente há mais de 4 décadas, Fernanda recebeu a visita do diretor de Carnaval Igor Carneiro e acabou exercendo consultoria para a escola de samba. “Fiquei maravilhada com a maneira como eles conseguiram penetrar no assunto com aquela energia. Ver um livro, que não foi escrito com aquele propósito, atingir um público muito diferente”, conta a arqueóloga.

Segundo o carnavalesco, a adaptação da história de Dubai para a folia carnavalesca não foi difícil. “Nos prendemos no mundo mágico que o oriente proporciona e começamos a aplicar a pesquisa na criação visual. A parte árabe é cheia de glamour e isso facilitou muito o visual da escola”, explica Zilkson Reis.

O desfile da Gaviões da Fiel tem início abordando a lenda das pérolas e o misticismo árabe. Em seguida, a escola mostra os primórdios da cidade, a antiga vila de pescadores e a primeira formação da população com os mercadores e beduínos, que serão representados pela bateria. A apresentadora Sabrina Sato, que desde 2004 desfila pela escola, integra essa ala ao lado da rainha de bateria Thaís Pimentel. Sobre a fantasia que irá usar no sábado (5), Sabrina não mede elogios ao carnavalesco. “Ele fez um desenho maravilhoso e criou uma coisa totalmente inovadora” conta. Para isso, Zilkson Reis costuma fazer uma pesquisa "de tudo que os destaques de chão” já usaram nos anos anteriores.

À frente do terceiro setor estarão as baianas representando o ouro negro -- segundo o carnavalesco, o grande responsável pelos primeiros investimentos na cidade. “O petróleo proporcionou o surgimento desta ousadia humana, a cidade do futuro”, completa.

Entretanto, nos dias de hoje, a indústria petrolífera já não é mais a maior fonte de renda de Dubai, mas sim o turismo.  A cidade se transformou em referência da hotelaria mundial e abriga o único hotel sete estrelas do mundo, o Burj Al Arab, construído sobre uma ilha artificial de areia. Também um pólo de compras do oriente médio, o aspecto turístico de Dubai estará representado no quarto setor do desfile.

Zilkson conta que o fim da passagem da Gaviões da Fiel pelo sambódromo tem a intenção de provocar uma reflexão nos brasileiros. “Quero passar a ideia de que nós temos toda essa riqueza da fauna e da flora, mas deixamos escapar pelos dedos. Dubai era apenas um deserto, mas eles conseguiram trazer pra perto deles o que é mais essencial pro ser humano viver e conseguiram harmonizar a natureza com o futurismo”, diz ele.