01/03/2011 - 07h00 | do UOL Entretenimento
FABÍOLA ORTIZ
Colaboração para o UOL
do Rio de Janeiro
Depois do luto, o Carnaval vai ressurgir das cinzas, prometem os integrantes da escola Acadêmicos do Grande Rio que teve perda total do seu Carnaval no incêndio que atingiu a Cidade do Samba, no último dia 7 de fevereiro.
No início da noite daquela segunda-feira que vai ficar na memória de muitos cariocas, o passista Marcelo Amorim se reuniu com os dançarinos em frente aos escombros do que antes era o barracão da Grande Rio na Cidade do Samba. “A gente veio para cá ver se dava para fazer alguma coisa, mas, de fato, não deu para fazer nada. A coisa estava muito feia, desabou parede em cima de carro”, relatou. Marcelo e muitos componentes da comunidade foram ao local do incêndio para tentar compreender melhor o que havia acontecido e se aquilo era mesmo verdade. O sentimento era desolador. “Muitos vieram para conferir se foi isso mesmo, mas acabou literalmente tudo. Da Grande Rio foi tudo mesmo”, lamentou o passista.
A semana do dia 7 de fevereiro começou com ares de frustração e de sentimento de trabalho perdido. Naquele dia ninguém trabalhou em nenhum dos barracões da Cidade do Samba que reúne as 12 escolas do Grupo Especial. Foi um dia de luto. O porta-voz da escola e diretor dos passistas, Avelino Ribeiro, disse que, assim como muitos cariocas, foi acordado com a notícia da tragédia e disse não ter acreditado quando viu pela televisão as imagens. “Catástrofe total”, resumiu. Das fantasias que viraram lixo e dos carros alegóricos que viraram pó, agora é hora de dar a volta por cima e a agremiação de Duque de Caxias já se prepara para refazer as fantasias e levar quatro alegorias para a avenida.
O carnavalesco Cahê Rodrigues (25/1/2011)
“É como a Fênix, vamos ressurgir das cinzas”, disse ao UOL Tavinho Novello, o diretor de carnaval da escola de Duque de Caxias, que atua há mais de 10 anos no ramo. “É a hora da superação, essa é a palavra de ordem. Eu tento não lembrar, mas quando lembro eu fico triste de novo. Era um Carnaval de título”, lamentou.
A escola se lançou ao desafio de levar quatro carros alegóricos para o Sambódromo na madrugada do dia 8 de março e ainda promete ter fantasia para os cerca de 3.600 componentes da escola. “Está sendo um mutirão da solidariedade, do recomeço e da reconquista. Temos recebido algumas doações de fornecedores. Muita gente acha que a Grande Rio vai de bermuda e chinelo. Nem a nossa ala de turista vai estar assim. As alas comerciais já foram vendidas. Tenho agora um objetivo: ensaiar a quadra e reconstruir esse Carnaval dentro do barracão”, afirmou.
Este será um ano da “total superação”, frisou Tavinho Novello. Ele destacou que se tivesse mais um mês, a escola iria com sete carros alegóricos. Com um desfile orçado em quase nove milhões de reais, a escola se preparou para disputar o título este ano com o enredo em homenagem à Florianópolis e às belezas da ilha cercada de magia e encantamento, como definiu o carnavalesco Cahê Rodrigues, que assina pelo terceiro ano consecutivo o enredo da escola.
“Agora o compromisso nosso é maior ainda, a gente tem que montar em cima do que tem e a escola está provando ainda mais a sua união. A gente tem o sonho de dar uma satisfação para a torcida de Caxias. Os olhos do Rio vão estar voltados para ver como a Grande Rio vai entrar na avenida. Posso garantir que mesmo assim ela pode surpreender”, disse Tavinho.
Ficar sem desfilar a escola não vai, garantem todos os integrantes e funcionários que estão trabalhando em regime de mutirão 24 horas no barracão cedido pela Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba). Os funcionários e artistas plásticos começam do zero. O único carro que sobrou foi o mini-carro das bruxas usado nos ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. O fogo destruiu tudo, mas a escola vai desfilar com dignidade, este é o sentimento geral dos artistas, aderecistas, escultores, carpinteiros e ferreiros que se revezam em turnos e varam as madrugadas na Cidade do Samba.
Ao som dos sambas-enredo da Grande Rio, mais de 30 homens trabalham nas ferragens dos carros alegóricos. “Isso tudo é garra, é pela vontade de ver o carnaval na avenida. Não vai ter aquele luxo, mas o carro abre-alas vai ter as bruxas e o caldeirão, ele foi recriado e vai ter alguma surpresa”, contou o diretor de barracão, Paulo Machado. O carro que faria uma homenagem ao ex-tenista brasileiro Gustavo Kuerten, o Guga, vai ser remontado assim como a taça que será reproduzida.
O que mais motiva os profissionais do carnaval é “o prazer de tentar mostrar aquilo que já estava pronto”, define o jovem aderecista de 21 anos, Thiago Denyz Ribeiro Barbosa. “Fiquei em estado de choque, muito abalado. A gente estava trabalhando de 14 a 15 horas por dia para tentar mostrar uma coisa maravilhosa e, num piscar de olhos, isso acaba. É uma coisa muito triste”, disse.
Thiago Denyz contou que, no fim de semana que antecedeu o incêndio, ele e sua família de artistas plásticos tinham finalizado o último carro alegórico. “Já estava pronto o nosso trabalho, era só fazer o acabamento. Naquele domingo a gente saiu comemorando. Agora a gente quer mostrar que a Grande Rio estava pronta, que tinha uma bonita arte para mostrar. Vamos ficar até de madrugada para a escola fazer um espetáculo. Quando ela entrar na avenida e todo mundo estiver cantando o samba, muita gente vai se arrepiar”, ressaltou Thiago.