24/02/2011 - 07h00 | do UOL Entretenimento
CLAUDIA DIAS
Colaboração para o UOL
do Rio de Janeiro
Quinze dias após o incêndio na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro, e duas semanas antes do Carnaval, o lema da escola de samba União da Ilha é trabalho. O objetivo é levar o enredo “O Mistério da Vida”, sobre a evolução das espécies e a viagem do naturalista inglês Charles Darwin ao redor do mundo, à avenida, mesmo depois da tragédia do último dia 7 de fevereiro, que destruiu um carro alegórico e todas as fantasias do grêmio recreativo da Ilha do Governador.
No galpão improvisado para os carros alegóricos, do lado de fora da Cidade do Samba, os trabalhos estão adiantados, e o carro mais prejudicado pelo fogo -- uma aranha que se moverá pela Marques de Sapucaí -- já está quase completamente recuperado. “Este foi o carro mais afetado pelo incêndio. Mas já conseguimos recuperá-lo. É claro que não será como o original, afinal, no primeiro, gastamos cerca de R$ 80 mil apenas em pelúcia para cobri-lo”, contou ao UOL o diretor de Carnaval da Ilha, Márcio André.
O carnavalesco Alex de Souza (22/2/2011)
Antes do incêndio, o carnavalesco Alex de Souza (ex-Vila Isabel) estava empolgado com o trabalho inspirado no livro "A Origem das Espécies". “A Ilha ficou oito anos no Grupo de Acesso, retornou no ano passado, e preparamos um Carnaval para mantê-la na elite do samba. Para se manter, em um desfile cada vez mais competitivo, precisamos ter algo a mais, para disputar a volta no desfile das campeãs”, comentou, antes de ficar decidido que a União da Ilha, Portela e Grande Rio, as escolas afetadas pelo incêndio, não seriam julgadas em 2011.
Este "algo a mais" da Ilha seria um Carnaval mais jovem, mais moderno, mais descontraído e mais alegre. “Fiz um trabalho leve, com um humor implícito, diferente de tudo o que a escola já apresentou, sem perder a essência. Nosso Carnaval tem graça e charme. Isso acontece quando você transforma formas que têm menos de um centímetro em alegorias e na magia do Carnaval. Isso tem uma coisa ingênua, de comunicação fácil, é uma coisa que a criança curte e o adulto também. É extremamente lúdico, como deveria ser o Carnaval”, declarou.
Agora, a corrida é para conseguir refazer o desfile. “Vamos optar por fantasias mais simples, mas bem resolvidas”, afirmou ele, na época do incêndio. E é o coordenador de fantasias, Alexandre Cunha, quem explica a ‘simplicidade’ sugerida por Alex. “Sintetizamos todo o conceito do nosso enredo. A perda maior foi conceitual mesmo. Nós tínhamos toda uma preocupação com a sustentabilidade, que era demonstrada no material utilizado. Como tudo se perdeu, tivemos que ajustar tudo a nossa nova realidade. Mas, no final, o que mudou foi o subtexto do enredo. Tudo virou uma síntese”, afirmou.
O coordenador de fantasias, Alexandre Cunha, orienta artesã na confecção de adereço (22/2/2011)
Enquanto a reconstrução dos carros alegóricos está quase pronta, no ateliê das costureiras, trabalha-se quase 24 horas por dia, para tentar recompor as 2300 fantasias, das 3200 que seriam apresentadas pela Ilha na avenida. Por lá, as dificuldades são muitas. “Como o incêndio aconteceu próximo ao Carnaval, o estoque de matéria prima para a confecção das fantasias já estava escasso. Então, além do trabalho de termos que sintetizar a ideia inicial para transformar a fantasia, temos que adaptá-la à nova realidade, ou seja, o material que temos para sua confecção”, completou Alexandre Cunha.
E como explicar Darwin - que será representado pelo ator Alexandre Nero - nos cerca de 90 minutos da passagem da escola pela avenida? “Nosso Carnaval é algo que você olha e entende, como o que já foi feito pela Maria Augusta em 'Um Dia de Domingo', e 'O Amanhã'. Você percebe o que é de uma maneira muito direta. Darwin pode até não fazer parte do cotidiano das pessoas, mas a natureza faz. O que está ligado a ele, faz”, garante o carnavalesco, que promete um grande desfile, mesmo sem marcar pontos.