04/02/2011 - 07h00 | do UOL Entretenimento
FABÍOLA ORTIZ
Colaboração para o UOL
Do Rio
Mantendo a linha do segredo que levantou a Marquês de Sapucaí em 2010 e garantiu as notas máximas dos jurados, a Unidos da Tijuca quer surpreender na avenida e homenagear o filme dirigido e protagonizado por Zé do Caixão "À Meia-Noite Levarei Sua Alma", da década de 60, no desfile que está marcado para começar -- ironia do destino -- logo após a meia-noite do domingo de Carnaval.
“Parece que é de terror, mas no fundo é uma grande brincadeira”, contou ao UOL o carnavalesco Paulo Barros, 48 anos, que pretende repetir o feito de 2010 e levar a Tijuca ao bicampeonato no Carnaval carioca deste ano. Paulo conta que a ideia do enredo surgiu de uma pergunta que fizeram a ele. “Questionaram se eu não tinha tanto medo de arriscar e essa palavra ficou no meu inconsciente. Eu tinha uma segunda opção que também era falar de cinema. Aí surgiu a brincadeira de montar esse filme através do cinema levando o medo”, explica.
Paulo Barros, carnavalesco, em ensaio técnico
“Em ‘Esta Noite Levarei sua Alma’, a Tijuca produz um filme, um longa-metragem na avenida que vai nos levar a uma viagem. E quem nos conduz é o ‘barqueiro de Caronte’, um personagem da mitologia grega responsável em levar as nossas almas. Queremos deixar a alma das pessoas em suspensão para assistir a um grande espetáculo. No final, tudo vira uma grande piada”, garante o carnavalesco.
Ao longo das 31 alas e seis carros alegóricos, a agremiação tijucana vai contar a história de Zé do Caixão e do cinema de uma forma diferente. Paulo, contudo, não revela as novidades. A surpresa é fundamental e o principal ingrediente para manter a expectativa, de acordo com o carnavalesco. “A minha linha é fazer o povo se divertir. A gente não conta de jeito nenhum, o gosto tem que ser na hora. Manter o conteúdo que vai para o desfile guardado é fundamental. O grande resultado depende do ineditismo”, enfatiza.
3.800
31
300
Adriane Galisteu, Zé do Caixão e Victor Dzeng
Haverá espaço para alegorias inspiradas nos personagens dos filmes “A Missão", "O Último Samurai", "Transformers", "Piratas do Caribe", "Guerra nas Estrelas", "A Fuga das Galinhas", "Priscila, a Rainha do Deserto", "A Múmia" e "Jurassic Park”, além dos nacionais "Lampião e Maria Bonita", "Carlota Joaquina" e "Quilombo". Já José Mojica Marins, mais conhecido como o Zé do Caixão, vai fechar o desfile. Seu filme será representado por um imenso caixão nas fantasias da ala, e ele deverá aparecer como destaque no último carro alegórico.
A escola quer consolidar o seu perfil de “ousadia e inovação”, destaca o porta-voz da escola, Bruno Tenório. “A gente dá liberdade para criação”. A esse perfil de moderna e ousada, a Unidos da Tijuca quer ser vista como a “escola da comunidade” e com uma imagem eclética, “acolhedora de todos os públicos”. Embora muitas fantasias estejam reservadas para serem vendidas em alas comerciais, a maioria é oferecida a preços simbólicos para a comunidade tijucana. “98% das fantasias vão para quem frequenta a escola. O Carnaval do Paulo Barros é mais artístico do que de celebridades. A grande celebridade é a própria comunidade”, enfatiza.
A Unidos da Tijuca era “incompreendida”, admite Bruno Tenório. Em quase 80 anos de história, a agremiação levou apenas duas vezes o título de campeã do Carnaval carioca. O primeiro foi em 1936, quando os desfiles ainda ocorriam na Praça Onze, o berço do samba, no centro do Rio de Janeiro. E o segundo, em 2010 no Sambódromo, tirando um jejum de 74 anos que vivia a escola tijucana. “A gente veio com um conceito completamente novo de Carnaval. A Unidos está muito à frente. Esse ano vai ser justo”, garante Bruno Tenório, para quem a agremiação sofria com o deficit de imagem.
O Carnaval da Unidos este ano está orçado em 10 milhões de reais com recursos oriundos, em sua maioria, de empresas parceiras e da própria escola a partir da venda de produtos com a marca Unidos e shows. Só em 2010, foram vendidos 300 shows e espetáculos. Neste perfil mais profissional, como defende Bruno Tenório, a aposta está em conseguir recursos junto à classe empresarial como a companhia aérea TAP que já patrocina a escola há alguns anos.
Fabio e Débora elaboram efeitos em fantasias
Tecnologia nas fantasias
“Tem que entrar na louca do carnavalesco”, descreve Fábio José da Silva, de 36 anos, artista plástico que trabalha com efeitos especiais e mecatrônica e colabora, pelo segundo ano consecutivo, com o carnavalesco Paulo Barros. Para 2011, o desafio de Fábio é confeccionar a fantasia de um dos destaques, um dinossauro de dois metros de altura e 6,40 m de comprimento, uma das inovações que a Unidos da Tijuca promete para o Carnaval de 2011: aliar a tecnologia à confecção de fantasias.
Para reproduzir os movimentos do dinossauro, Fábio se baseou no modelo de um dinossauro feito na Austrália. “Desvendei o mecanismo de movimentos do bicho”, disse. É uma mecânica elaborada, explica o artista ao destacar que, para chegar no formato ideal do dinossauro, ele e sua equipe de mais três mulheres levaram quase dois meses. “A gente não sabia qual era o mecanismo que movimenta a cabeça. É igual a um movimento de avião, uma mão se controla a direção e a outra puxa e abre as asas. Esse é mais elaborado na cabeça porque emite som, pisca os olhos e move com a órbita do olho. Montamos um protótipo, o Paulo gostou e fomos para a reprodução”.
Segundo Fábio, todo ano é um desafio, “a gente nunca faz o que fez no ano anterior, são sempre coisas loucas. Desde 1993 na indústria carnavalesca, Fábio trabalha com escultura, fibra, resina, soldo, crio, desenho, projeto e pintura de arte. Segundo o artista, foi a folia que deu a possibilidade de se trabalhar com artes plásticas e ganhar dinheiro. “O mundo do Carnaval proporcionou isso, então quando você encontra um carnavalesco que é mais louco ainda, o negócio funciona. O carnavalesco traz para gente o que a gente quer fazer, e funciona assim”, brinca.
O Carnaval já entrou para a família de Fábio. Sua esposa Débora integra sua equipe, e o casal passa a semana inteira no barracão e só volta para casa no fim de semana. Débora também se considera uma “colaboradora nata do carnaval”. Fábio e Débora são pais de duas filhas que dizem já quererem entrar para essa rotina de escola de samba . “Embarquei e me apaixonei. É muito gratificante, na avenida a gente vê o trabalho pronto, o impacto, o sacrifício e o cansaço que foi. A gente entra numa rotina de carnaval e fica numa expectativa tão grande que quando passa, a gente sente falta depois e quer logo que comece. A realidade é essa, você fica contaminado com o Carnaval”.