Salgueiro se complica, atrasa 10 minutos e deve ficar fora da disputa do título

Da Redação*

A organização era enorme e o orçamento milionário -- pelo menos R$ 10 milhões, contando com R$ 3 milhões de patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro. Ainda assim, a Salgueiro foi atrapalhada pelo tamanho exagerado de três carros alegóricos e princípio de incêndio num quarto, teve sua evolução prejudicada e acabou saindo da Marquês de Sapucaí com 10 minutos de atraso, totalizando 92 minutos de desfile (o tempo máximo regulamentar é de 82 minutos).

Primeiro, o carro "Tesouro perdido da Atlântida", representando tanto a mitológica cidade submersa, quanto o polo de cinema brasileiro responsável por chanchadas dos anos 1940 e 1950, teve problemas para entrar na avenida, devido aos quase 9 metros de altura e largura extrema. O sétimo carro, "Hollywood é aqui", teve de ser manobrado insistentemente por homens da divisão de apoio, acabou empurrando um integrante e provocou um "vazio" entre algumas alas antes de, finalmente, conseguir participar do desfile. O que ele mostrava? Uma gigantesca reprodução do relógio da estação Central do Brasil sendo agarrado por King Kong. Momentos depois, o oitavo e último carro, com quatro réplicas gigantes da estatueta do Oscar, também teve problemas no ajuste final e provocou um novo "buraco". Houve ainda o princípio de incêndio no carro que homenageava a animação "Rio", do cineasta Carlos Saldanha.

A bateria da escola, apelidada de "furiosa" e trajada com fardas de soldados do Bope (o Batalhão de Operações Especiais da polícia fluminense) como no filme "Tropa de Elite", foi uma das alas prejudicadas pela falta de movimento dos três carros: apesar da beleza das fantasias, do ritmo imposto pelo mestre Marcão e da energia da rainha Viviane Araújo, acabou tendo de abrir mão da manobra do recuo -- que distribui a marcação dos instrumentos ao longo da passagem de toda a escola.

Apenas o atraso de dez minutos deve render a perda de um ponto à agremiação (um décimo de ponto é descontado a cada minuto de atraso). A escola, no entanto, pode ver sua nota cair mais caso os jurados entendam que o andamento do desfile e o entendimento do enredo tenham sido prejudicados pelo ocorrido. Vale lembrar que, mesmo estando longe da briga pelo título, a Salgueiro não poderá ser rebaixada, uma vez que nenhuma escola cairá à segunda divisão este ano, como forma de compensação às prejudicadas pelo incêndio na Cidade do Samba, Portela, Grande Rio e União da Ilha.

O QUE FUNCIONOU
Outros momentos da Salgueiro seguiram melhor o script do carnavalesco Renato Lage, que misturou o mote do cinema para contar algumas histórias da Cidade Maravilhosa ao público da Sapucaí com o enredo “Salgueiro Apresenta: O Rio no Cinema”.

O primeiro carro alegórico abusou da tecnologia e arrancou aplausos do público ao mostrar numa grande tela de cinema imagens feitas ao vivo das arquibancadas e frisas da Sapucaí. A ala das baianas trouxe fantasias inspiradas no navio que transportou a família real no filme "Carlota Joaquina, Princesa do Brasil".

O público também se encantou com a letra do samba puxado pelo intérprete Quinho, e cantou junto o refrão que começa com os versos "Onde está?/ Diz aí!/ Carlota Joaquina veio descobrir". E com momentos em que a escola mesclou situações do cinema, mitos do folclore e paisagens típicas da cidade, como na reconstrução de barracos de favela como palco dos filmes "Orfeu Negro" e "Tropa de Elite", ou de alas coreografadas representando astros das telas: o ator Eri Johnson, fantasiado de Charles Chaplin, e as atrizes Fernanda Paes Leme e Fernanda Rodrigues, como "damas do cinema".