07/03/2011 - 22h47 | do UOL Entretenimento
Da Redação*
Uma das três escolas atingidas pelo incêndio do dia 7 de fevereiro na Cidade do Samba, a agremiação da Ilha do Governador entrou na Marquês de Sapucaí, nesta segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio, ao som do "Parabéns pra você" e inspirada na expedição do naturalista inglês Charles Darwin à América.
Celebrando 58 anos de Carnaval, a agremiação preparou um grande bolo, que foi distribuído entre os espectadores do setor 1 do sambódromo, o mais popular. A bateria da escola marcou o passo da cantiga de aniversário, entoada a plenos pulmões pelo puxador de samba Ito Melodia. Ao final, na dispersão, nova celebração, desta vez para os funcionários dos barracões, que desfilaram com uma faixa saudando a força dos integrantes da escola.
Um carro e milhares de fantasias tiveram de ser reconstruídos e, a quarenta minutos de entrar na avenida, aderecistas ainda montavam a forração do carro da comissão de frente, chamado "Árvore da Vida". Ainda assim, a União da Ilha deu mostra de superação e de alegria para mostrar o enredo "O Mistério da Vida".
Roberto Lima, coreógrafo da comissão de frente, explicou que teve de refazer a movimentação e também as fantasias dos 15 integrantes, que representam o jovem Darwin e suas anotações e ideias iniciais. Elementos tecnológicos de iluminação e movimento, montados durante dois meses, foram perdidos no incêndio e tiveram de ser trocados em uma semana por roupas mais simples -- quase que totalmente brancas, com adereços feitos de pano e papel.
"A gente trabalha com o lúdico, o lirismo, o que traz um certo encanto e um tom de delicadeza", disse Lima, que acredita ser capaz de tocar o coração do público mesmo com a simplicidade dos novos elementos.
Tecidos leves, telas translúcidas, guarda-chuvas e até bexigas coloridas compuseram a base das fantasias de diversas alas, refeitas com simplicidade, mas dentro do espírito carnavalesco. Ainda assim, muito do luxo planejado pelo carnavalesco Alex de Souza pode ser observado em alegorias como o carro abre-alas, "A Memória da Terra", onde esculturas gigantes em forma de esqueletos de animais se iluminavam, enquanto dezenas de destaques envergavam fantasias com muito brilho, plumas e adereços brancos e prateados. O carro que resgatou o Jardim Botânico do Rio observado por Darwin em 1832 também mostrou requintes com cores vivas e brilhantes e efeitos interessantes, como o de plantas carnívoras que engoliram passistas fantasiados de insetos ao longo do desfile.
A aranha gigante, uma das principais atrações preparadas e também uma das mais afetadas pelo fogo, circulou com movimentos reduzidos: o comando eletrônico do sistema hidráulico das patas foi substituído por articulações de acionamento manual. À frente dela, pequenas moscas e besouros da bateria da escola chegaram a ousar com o uso de tritons, instrumento de percussão com som menos sincopado, fazendo contraponto para surdos, repiques, pandeiros e tantãs.
A simpatia e o humor dos passistas também fixou explícita, apesar das dificuldades enfrentadas. Na ala dos sapos, formada apenas por homens, tinha componente dizendo "tem perereca aqui". Entre as baianas vestidas de abelhas rainhas, dona Geni Deodado, 63, ainda se ressentia do incêndio, mas buscou alento no coletivo. "Comunidade é comunidade, a gente encontra força", afirmou, garantindo ter o samba-enredo na ponta da língua. (com reportagem de Daniel Milazzo)