07/03/2011 - 01h54 | do UOL Entretenimento
Da Redação*
Primeiro foi o incêndio do dia 7 de fevereiro, que atingiu os barracões da Cidade do Samba, na Zona Portuária do Rio, destruindo quase 3 mil fantasias da escola. Depois, defeitos com dois carros na concentração da Marquês de Sapucaí provocaram correria e fizeram com que integrantes, passistas e destaques se desdobrassem na avenida para manter a coesão (leia mais aqui).
Ainda assim, a Portela encontrou forças para fazer um desfile de alto nível técnico, já na madrugada de segunda-feira, mesmo sem ter a obrigação de impressionar jurados e lutar pelo título (além dela, Grande Rio e União da Ilha, afetadas pela destruição do fogo, foram poupadas da disputa competitiva do Carnaval).
"A Portela conseguiu dar a volta por cima. O que passou, passou. Aconteceu. A gente enverga, mas não quebra", disse o compositor Monarco, um dos baluartes da escola, que neste ano desfilou à frente do carro abre-alas, ao lado da velha guarda da escola.
A tradicional ala, que costuma encerrar o desfile de outras agremiações, iniciou a apresentação da Portela, fazendo o primeiro contato entre a escola e o público presente. Entre os integrantes, o compositor Paulinho da Viola, que fez questão de sair no chão para dar apoio à escola. "Não só a Portela, mas as outras escolas vítimas do incêndio deram a volta por cima, e a turma vai desfilar como se fosse disputar o título", afirmou.
A velha guarda contou ainda com o reforço de um estreante, tanto na escola, quanto no Carnaval do Rio, o jogador Ronaldinho Gaúcho, craque do Flamengo, que prometeu prestigiar o desfile das escolas que foram vítimas do incêndio.
A força dos primeiros e mais antigos integrantes foi transferida ao restante da escola, que fez um desfile de alto nível e mostrou que teria boas chances de brigar pelo título, que não conquista há 27 anos. Impressionante, o carro abre-alas, "Águia Altaneira/Encontro do Céu com o Mar", trazia a simbólica águia da escola com movimentos de asas, cabeça e, refino máximo, sons a cada abertura do bico. A grandiosidade seguiu no restante das alas e alegorias que mostraram diferentes leituras das forças do oceano, seguindo o enredo 'Rio, azul da cor do mar", ora mostrando um gigantesco Netuno cercado de dragões e serpentes marinhas ("Medos e Tumultos do Mar"), ora exibindo a força dos navegadores portugueses do alto de suas caravelas, com velas ricas em detalhes e reproduzindo afrescos renascentistas. O encantamento colossal dos europeus ao avistarem as belezas, mistérios e riqueza de recursos naturais do Novo Mundo também ganhou destaque nas alegorias de Roberto Szaniecki.
Também cresceu aos olhos do público a bateria do mestre Nilo Sérgio, que desfilou com 300 componentes (entre os quais, o prefeito da cidade, Eduardo Paes) cobertos por roupas moldadas a partir de 100 adesivos cada, tendo à frente a rainha estreante Sheron Menezes, atriz global. O detalhe é que cada uma das fantasias da ala, que representou os conquistadores portugueses, teve de ser refeita após o incêndio no barracão.
O público também acabou conquistado pela ala das baianas -- vestidas de azul e branco, como o mar, como Iemanjá e como a própria Portela -- e pela ala mirim, fantasiada de "Ouro Asteca", num dos raros pontos da escola a trocar o azul e suas derivações por cores diversas.
Ao final, valeu a avaliação do mestre da bateria Nilo Sérgio: "Agora, a gente vai fazer morte e vida da Portela, pois nos superamos e a escola está bonita". (com reportagem de Fabíola Ortiz)