01/03/2011 - 09h01 | do UOL Notícias
São Paulo - Campeão do Grupo de Acesso em 2010, o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Nenê de Vila Matilde vai evocar deuses e faraós para contar a história do sal no sambódromo do Anhembi, em São Paulo, com o samba-enredo "Salis Sapientiae - Uma História do Mundo!". Primeira agremiação do Grupo Especial a desfilar na noite de sábado (dia 5), a Nenê vai levar ao sambódromo cerca de 3.200 integrantes, divididos em 33 alas e cinco carros alegóricos - sendo um acoplado.
Duas vezes campeão pela Império de Casa Verde, em 2005 e 2006, o carnavalesco Delmo de Moraes desfila pela segunda vez no comando da Nenê de Vila Matilde, após passar pela Gaviões da Fiel e Vai-Vai. Vindo do Rio, onde já defendeu União da Ilha e Unidos da Tijuca, Moraes chegou ao carnaval paulista em 1997.
"Eu vim para o carnaval de São Paulo para ficar um ano na Gaviões e acabei sendo campeão. Depois fui bicampeão pela Império de Casa Verde. Em 2010, desfilei pela Vai-Vai e pela Nenê, que estava no Grupo de Acesso. As coisas deram tão certo que eu fui ficando. E eu estou aqui até hoje", diz o carnavalesco.
Para contar a contar a história do sal, mineral tão antigo quanto a história da humanidade, a agremiação da zona leste vai explorar acontecimentos que constam desde a Idade Média aos dias atuais. De acordo com o carnavalesco, apesar de ser a substância mais abundante na natureza, o sal já foi escasso e comercializado a peso de ouro. "Na China era usado como moeda de troca e é daí que surge a palavra salário", diz Moraes.
A importância do sal teve início com a descoberta do fogo. O homem primitivo, que vivia da caça, procurava formas de temperar os alimentos e é nesta busca que o sal é descoberto. As primeiras minas exploradas estavam localizadas às margens do lago Hallstatt, na Áustria. A região tornou-se um dos mais ricos sítios arqueológicos da Europa e é considerado atualmente patrimônio cultural e natural da Unesco.
Na Grécia antiga, o sal adquiriu significados sagrados e era um importante componente nos rituais oferecidos aos deuses do Olimpo. No Egito, era usado no processo de mumificação. Os egípcios aplicavam o sal na pele dos faraós para conservá-la intacta para que seus entes e servos pudessem reconhecê-los quando alcançassem a eternidade.
No Brasil, após a vinda da Família Real, o Rio Grande do Norte tornou-se o maior produtor de sal marinho do País, seguido de Cabo Frio, na costa fluminense. Do sal, surgiu a feijoada - os escravos guardavam a carne no sal. Nos Pampas, o autêntico churrasco leva apenas sal grosso.
A agremiação vai explorar ainda o sal na cura do corpo e da alma. Os sais minerais, encontrados nos alimentos, são importantes fontes de nutrientes para o corpo. É usado ainda na hidratação do corpo como componente do soro fisiológico. Possui propriedades antibacterianas e era usado antigamente em salmouras para estancar o sangue em ferimentos. Mas o consumo excessivo tornou-se uma preocupação para a saúde mundial. Grande parte dos males do coração e hipertensão pode ser atribuída ao sal.
Com investimentos de R$ 2,5 milhões, a escola abre no Anhembi o segundo dia de desfiles. "Abrir um desfile é sempre melhor do que encerrar já com o dia nascendo. À noite os efeitos são muito melhores. De manhã é preciso usar materiais adequados para aquele horário. Mas considero que o melhor horário é entre a quarta ou quinta escola porque o público já chegou e as pessoas já estão no clima", avalia o carnavalesco.
Este será o primeiro desfile da Nenê de Vila Matilde após a morte do fundador da agremiação, Alberto Alves da Silva, o Seu Nenê, em outubro do ano passado, aos 89 anos. "Haverá uma grande homenagem no final do desfile. No último carro alegórico", disse Alexandre Pop, assessor da escola, sem dar muitos detalhes para não tirar a emoção do desfile. "Mas as pessoas vão se surpreender", conclui o carnavalesco.
Confira o samba-enredo da Nenê de Vila Matilde:
"Salis Sapientiae - Uma História do Mundo!"
Compositores: Tonn Queiroz, Anderson Vaz, Fabiano Sorriso Santaninha, J. Velloso, Cláudio Russo, Marquinhos
Voando nesta poesia
Nenê vem contar "Uma História do Mundo!"
Com graça, estilo, elegância
No balanço do samba, a riqueza do Sal
Descrito no livro sagrado
Foi a punição, o castigo ao pecado
Na antiguidade, a chama do fogo fez o homem despertar
Era o início da procura ao paladar
Ao Faraó, a eternidade
Na China, o valor comercial
Soldado de Roma recebeu salário
Com o Sal do Olimpo se fez ritual
É sabedoria no batismo do cristão
Feito aliança, celebrado em comunhão
Na tela Da Vinci pintou...
O saleiro tombado revela o traidor
Soberania, uma obra do destino
Foi concedido o direito à exploração
Daí então o mineral se extraiu
Da pátria amada, idolatrada, mãe gentil
Sal de cada dia, fonte de energia essencial à nação
Mas atenção! O Sal à vida faz o bem e o mal
Em nosso corpo tem função vital
Seu exagero prejudica o coração
Superação, Comunidade Matildense em união
Suou, sangrou e até chorou
Agora em festa, a Zona Leste que voltou
Vem provar do meu tempero, minha Vila tem sabor
Vem ver como é que é, quem tem samba no pé
Minha Águia, meu amor!