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Após 'esquecer' Cartola, Mangueira revive Nelson Cavaquinho no centenário do poeta

FABÍOLA ORTIZ
Colaboração para o UOL
do Rio de Janeiro

Mantendo a tradição verde e rosa, a Estação Primeira de Mangueira quer fazer em 2011 um desfile enxuto e mais atento a detalhes técnicos, em ano em que homenageia o centenário do poeta e compositor mangueirense Nelson Cavaquinho. Em 2008, a escola foi criticada por não ter lembrado os 100 anos de um de seus fundadores, o cantor e compositor Cartola. Naquele ano, a escola amargou o décimo lugar com um enredo em homenagem ao frevo. A escola foi “pré-julgada por isso”, avalia o jovem carnavalesco Wagner Gonçalves, de 32 anos, ao destacar que, desta vez, a verde e rosa não vai deixar passar em branco o centenário do compositor cuja história se confunde com a trajetória da Mangueira.

“A nossa proposta é fazer uma Mangueira mais enxuta e compacta, mesmo com quase 4.500 componentes. Sem falsa modéstia, o desafio é a Mangueira ser a grande campeã desse Carnaval porque é uma escola de muita força, tem uma comunidade que está envolvida e feliz com o enredo”, diz Wagner em entrevista ao UOL. O carnavalesco é uma das novidades da verde e rosa e um dos mais jovens do Grupo Especial. Ele assina o enredo “O Filho Fiel, Sempre Mangueira” junto com o experiente Mauro Quintaes, de 53 anos e há quase 30 de Carnaval.

  • Divulgação

    Os carnavalescos Wagner Gonçalves e Mauro Quintaes assinam o desfile da verde e rosa

A disputa pela escolha do samba-enredo no final do ano passado bateu recorde com o número de sambas inscritos: 140 letras e a briga foi acirrada. A escola recebeu composições de todo o Brasil. “Foi um recorde. Eu fiquei atento aos sambas na semifinal e qualquer um daqueles seis atendia ao projeto. Estava tranquilo porque o Ivo Meirelles [presidente da escola] é músico e tem um apuro auditivo.”, defendeu Wagner.

Após a escolha, foram dois meses de criação e construção da sinopse que recebeu a colaboração do jornalista e estudioso do samba, Sérgio Cabral, e da cantora, amiga e principal intérprete de Nelson, Beth Carvalho. 

Para fugir do senso comum, a escola não vai fazer uma homenagem póstuma ao célebre compositor -- pelo contrário, quer trazê-lo de volta à vida e à avenida. “Como uma autobiografia, é o Nelson que apresenta o enredo, em primeira pessoa. Isso gerou uma identificação imediata com a escola e a possibilidade da narrativa ser atemporal. Para o mangueirense, ele está vivo. É importante a comunidade se reconhecer. O termômetro é a própria comunidade e ela abraçou a escola”, explica Wagner.

Na avenida, o carnavalesco promete novidades estéticas. O maior carro será o abre-alas: com 40 metros de comprimento e 9,5 m altura, ele terá uma “forma mais arrojada”, mantendo a tradição da escola de apresentar a velha guarda e os baluartes da Mangueira, que são as raízes da agremiação. “O abre-alas e o último carro são grandes intervenções para a estética da Mangueira. É uma novidade para a escola que é tradicional. Já vai ser uma quebra de paradigma”, descreve Wagner. Beth Carvalho vai estar presente no terceiro carro alegórico, que representará o bar Zicartola.

  • Mangueira em 2011

  • Número de integrantes

    4.500

  • Número de alas

    50

  • Funcionários no barracão

    350

  • Celebridades confirmadas

    Beth Carvalho, Gracyanne Barbosa

A Mangueira leva para a avenida três esculturas de Nelson Cavaquinho, de tamanhos diferentes. No carro que fará alusão ao Zicartola, o escultor Marcelo Rezende criou um Nelson realista em tamanho natural. Esta obra está sendo guardada a sete chaves. As outras duas esculturas foram produzidas pelo escultor oficial da escola, Glinston Dias de Paiva. Uma das obras tem três metros de altura e é um busto do poeta feito de isopor que vem com o violão inclinado no carro intitulado "Folha Secas". Levou duas semanas para ser finalizada e será destaque do carro. Mas o que promete levantar o público na avenida é a segunda escultura do abre-alas. Na obra com cinco metros de comprimento, Cavaquinho aparecerá como se estivesse flutuando, de corpo inteiro, deitado e tocando violão.

Orçado em seis milhões de reais, o Carnaval deste ano da Mangueira ainda carece de recursos e,  faltando vinte dias para o desfile, ainda há muitos preparativos não finalizados. “O presidente Ivo Meirelles está correndo atrás arrumando parcerias. A gente conta com o repasse da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), televisões, venda de ingressos e movimento de quadra. Mas grande parte é da própria Mangueira que está quase se autossustentando”, conta Wagner.

Velha-guarda vibra com enredo sobre o amigo Nelson

Enquanto isso, na quadra da escola, carinhosamente apelidada como "Palácio do Samba", o enredo do Nelson Cavaquinho inspira dançarinos e componentes da velha-guarda da Mangueira que conviveram com o poeta que, se estivesse vivo, completaria 100 anos no dia 19 de outubro. “Eu o conheci, o pai da minha filha tocava cavaquinho com ele. É um prazer homenageá-lo com todo o amor e carinho este ano”, disse Leia Ferreira dos Santos que aos 78 anos ainda desfila na ala das baianas. Nascida na comunidade da Mangueira, desde a década de 30, Dona Leia desfila na Mangueira e nunca deixou a escola por nada.

  • Hélio Motta/UOL

    Mestre Delegado, 90 anos, frequenta há 60 anos a quadra da escola de samba carioca

Assim como o compositor mangueirense, ela também pegou o começo da história da escola. E a expectativa este ano é levar o título, garante. Dona Leia é uma das mais antigas a desfilar na ala que conta com 120 baianas, na qual geralmente as mulheres têm idade entre 50 e 60 anos. O último título de campeã foi em 2002, quando a verde e rosa apresentou o enredo sobre o Nordeste. “Estou adorando o samba enredo do Nelson Cavaquinho, é muito forte. O melhor samba-enredo é o da Mangueira. Carnaval é o que eu mais amo na vida. Quando criança, o meu sonho era desfilar na escola, hoje posso dizer que cresci e saí na Mangueira. Está na hora de ganhar de novo”, brinca Maria das Grassas dos Santos, de 60 anos, integrante do departamento feminino e comandante da ala do segundo setor.

A presidente de honra da ala das baianas, Arlete Silva, mais conhecida como Tia Suluca, disse que conheceu Nelson e que “ele se dava com todo mundo”. Aos 83 anos, Arlete é a baiana mais antiga da Mangueira e revela que já perdeu a conta de quantos anos está na escola. Com pique, Tia Suluca frequenta todos os sábados a quadra vestindo a faixa verde e rosa de presidente de honra e, na hora do desfile, ela prefere seguir a pé. “Não tem como se aposentar do samba, só quando eu morrer. Eu quero é me divertir”.

O samba está no sangue da família de Tia Suluca. Enquanto Arlete desfilava como baiana, seu irmão, Helio Laurindo da Silva, mais conhecido como Mestre Delegado, foi o grande mestre-sala da Mangueira. Durante 36 anos, Delegado saiu como mestre-sala e arrancou a nota máxima em 10 campeonatos consecutivos. Isso ficou marcado na memória, sempre que perguntado ele repete o feito em todas as conversas. Hoje, aos 90 anos, com seu inseparável chapéu panamá, um apito pendurado no pescoço e com o seu bastão verde e rosa e toques de dourado da época de mestre-sala, o elegante Delegado o carrega como se fosse um amuleto há, pelo menos, 60 anos que frequenta todos os sábados a quadra da escola.

“A Mangueira é para mim a vida”, diz. Humilde e solitário, Delegado sobe sozinho as escadas da entrada da escola geralmente por volta das 11h da noite e vai ao seu lugar cativo, em frente ao palco principal e às caixas de som. Assim como sua irmã, nascido e criado na Mangueira, Delegado disse que nunca desfilou em outra escola. Esta é do coração, garante.

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